23/12/10

Poesia de Natal

Nesta época mágica do Natal as pessoas as cidades e a Natureza se transformam. Umas sentem que é tempo de serem mais tolerantes e solidárias, as cidades se tornam mais bonitas, com iluminação condizente, a natureza cumpre o calendário,que aqui é Inverno, e a neve cai nas cidades, vilas e aldeias.

E eu tive vontade de transcrever dois poemas dos nossos poetas, um deles, de Natal e outro que não sendo, é de uma beleza única.

A Noite de Natal

Em a noite de Natal
Alegram-se os pequenitos;
Pois sabem que o bom Jesus
Costuma dar-lhes bonitos.

Vão se deitar os lindinhos
Mas nem dormem de contentes
E somente às dez horas
Adormecem inocentes.

Perguntam logo à criada
Quando acorde de manhã
Se Jesus lhes não deu nada.

- Deu-lhes sim, muitos bonitos.
- Queremo-nos já levantar
Respondem os pequenitos.

Mário de Sá-Carneiro (1890 - 1916).

Balada da Neve

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza,
e cai no meu coração.

Augusto Gil (1873 - 1929)


Desejo a todos, um Feliz Natal e um Ano Novo com tudo de bom.

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12/07/10

BLOQUEIO CRIATIVO CRÓNICO.

Parece ser este é o meu estado permanente, como se pode ver pelo tempo que demoro a publicar qualquer novo artigo. A minha opinião é que para se escrever um texto,as duas condições necessárias são: Ter uma ideia que eu considere minimamente razoável, e ter vontade de escrever.

Fácil não é? Eu acho que não. A ideia razoável de ontem à noite, hoje já não tem graça nenhuma e a vontade de escrever que ontem não apareceu, essa continua ausente, hoje.

Por estranho que pareça, quando uma delas aparece, a outra teima em estar ausente. É um problema, não é?

Até tenho lido alguns artigos que muitos blogueiros escrevem ensinando a resolver os bloqueios e escrever textos de qualidade. Pois é, mas comigo nem sempre dá, eu explico porquê.

Quando me surge uma ideia, e a vontade de escrever não está por perto, eu tomo nota da ideia (como ensinam os que sabem muito destas coisas) e fico esperando pela vontade de escrever. Às vezes demora quinze dias,um mês, outras vezes mais tempo.

Não aconselho a ninguém o uso deste meu método, porque deixar o blogue sem actualizações é muito prejudicial. Eu próprio sei que é mau sistema, mas no meu caso particular, como tenho uma outra ocupação principal que é muito exigente, e da qual eu vivo, acho que estou desculpado.

Digamos que com este texto pretendo, mostrar o que não se deve fazer.

Lembro-me que uma das ocasiões em que o desejo de escrever apareceu, foi de noite (muitas vezes me acontece isto), de mansinho lá veio ele e zás… colou em mim. O efeito foi imediato, isto é, instantaneamente eu senti um furioso desejo de teclar. Como não ficar feliz, se a ideia já cá estava esperando há oito dias pela vontade de escrever!

Levantei-me da cama, (porque o danado apanhou-me na horizontal, lendo um livro), e a minha mulher, com aquele sono leve que as mulheres têm, acordou e perguntou se estava tudo bem comigo, disse que sim, e esclareci que ia escrever umas coisas no computador.

Não sei porquê, mas ela achou estranho que às 2 horas da madrugada eu fosse escrever no computador! Então ela disparou uma daquelas frases assassinas que esvazia o ego de qualquer potencial escritor: “Tem- juízo- e- vem- mas- é- deitar-te- que- amanhã- é- dia- de- trabalho!” . Para quê entrar em explicações quando a nossa interlocutora está meio adormecida? Fiz-lhe a vontade e deitei-me!

Voltei a abrir o livro que estava a ler, mas ainda sentia uns restos de adrenalina e procurei nas gavetas da mesa de cabeceira o caderninho e a caneta que deviam lá estar, mas não estavam. Nunca aparecem quando são precisos!

Já não consegui retomar a leitura, e deitado, fiquei a olhar para o tecto, imaginando o belíssimo texto que poderia ter escrito se não tivesse corrido tudo mal; E acabei adormecendo. No dia seguinte, tive um dia cheio que nem um ovo e já nem me lembrei escrever.

Em condições normais, quando os elementos necessários (a ideia e a vontade de escrever),estão presentes , eu faço um texto com base numa das ideias que antes anotara. E segundo aprendi com quem sabe (e são muitos), não publico e deixo para fazer uma leitura no dia seguinte, que acaba ficando para uma semana depois.

Quando leio o que escrevi na semana anterior, quase nunca gosto do texto, então faço algumas modificações e fica em banho-maria mais uns dias, até que eu volte a ler e decida, se vou ou não publicar. Se os meus leitores soubessem quantos textos já eliminei! Não me diga que também devia ter eliminado este? É que estou num daqueles dias de tolerância máxima comigo mesmo, além disso estou pressionado pelo “tenho que publicar hoje”!

Estes são alguns motivos que fazem com que eu publique tão pouco. Mas ainda não desisti porque tenho fundadas esperanças de, como alguns colegas blogueiros, vir a escrever três artigos por dia.

Até à próxima

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07/06/10

Redes Sociais: Use-as Com Bom-Senso!

Frequento muito pouco as Redes Sociais, não porque tenha alguma razão especial para as evitar, mas apenas por uma questão de temperamento e também como o meu tempo disponível não é muito,prefiro usá-lo na leitura de blogues que eu aprecio.

Mas não foi propriamente para falar das minhas preferências na Internet que eu estou escrevendo. É para contar um caso verídico que começou, isso mesmo, numa das mais populares Redes Sociais.

Num sábado do mês de Maio, almoçámos, eu e a minha mulher, com um casal amigo que já não víamos há dois anos. Chegados ao restaurante e depois daquelas expressões de quem não se vê há muito tempo, encomendamos as refeições,então eles entraram directamente no assunto: "Se soubessem o que nos aconteceu!" E não nos dando tempo para perguntar: O que foi? O meu amigo começou logo a contar.

Quando a filha ficou desempregada, passava parte do tempo no computador. Eles pensavam que ela pesquisava empregos, mas se era o que procurava, não encontrou, porque ainda está sem trabalho.

O que a menina fazia na Internet tiveram os pais a revelação, quando tempos depois, estando eles nos últimos dias de uma semana em Londres, receberam um telefonema da filha que lhes deu a notícia de que estava grávida. Os pais ficaram siderados, eles nem sabiam que ela namorava!Como foi isso possível? Mas a filha não quis explicar pelo telefone.

Só no regresso, dois dias depois, é que ficaram sabendo que ela "conhecera" um rapaz numa Rede Social e após três semanas de conversas marcaram um encontro cujo resultado
foi a gravidez. O meu amigo zangou-se, a mulher dele nem acreditava que a filha tivesse esquecido tudo o que sabia sobre métodos anticoncepcionais. A menina não tinha esquecido, mas garantiu que o preservativo rasgou-se. E a pílula do dia seguinte? O pai, sarcástico, terá dito que "no dia seguinte eles devem ter estado a consolidar o trabalho da véspera!"

Ele acha que não devia ter dito aquilo, mas estava fora de si.E terá acrescentado tudo o que lhe veio à cabeça, mas só recorda de disparar uma frase que leu na Internet: "homem burro mais mulher burra, igual a gravidez". Antes que ele se lembrasse de tudo o que chamou à filha eu perguntei: E que tal o namorado,vocês aprovaram a escolha da vossa filha?

O homem estava alterado.Antes quero dizer-vos que o bebé já nasceu, é um rapazinho que representa a única nota positiva resultante da aventura em que a filha se meteu.

Quanto ao sedutor (o termo é do meu amigo), eles quiseram conhecê-lo, e ainda na fase da gravidez, o convidaram para ir à casa deles. Ficaram decepcionados. O rapaz nem tem instrução nem cultura,nem maturidade e é mais novo do que a namorada onze anos, e agora deixou o emprego para vir arranjar outro na mesma cidade onde moram os meus amigos.

Mesmo contrariados,pensaram que seria melhor os desempregados ficarem a viver com eles enquanto não arranjassem trabalho. Mas dois meses depois tiveram que o "convidar" abandonar a casa, porque as discussões entre os namorados eram diárias.

Actualmente estão separados. A moça vive na casa dos pais com o bebé, e o rapaz vai ver o filho sempre que deseja. No entanto as discussões continuam, e ele ameaça tirar-lhe o filho.

Ela deve estar bem arrependida de se ter metido neste sarilho e provavelmente ele também, afinal eles são um bom exemplo do mau uso que alguns dão às Redes Sociais.

E agora o que lhes irá reservar o futuro? Um inocente bebé com pais desempregados, que vão acabar se odiando e os avós que adoram a criança, todos estão em sofrimento.

O tempo costuma resolver muitos problemas, mas este, será que resolve? É um caso que tem todos os ingredientes para acabar mal. E você como resolveria?

Até à próxima.

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20/05/10

Palavras Bonitas? Conheça Quem As Diz!


Quando eu era criança, numa época em que morei durante um ano em casa de uns tios, havia um rapaz que namorava com a minha prima (filha dos donos da casa), ele tinha uma maneira de falar que despertava a minha admiração. Salpicava a conversa com alguns advérbios de modo, daqueles que acabam em "mente" como por exemplo: extremamente, efectivamente, provavelmente, entre outros.

Aquilo para os meus ouvidos era música celestial, porque eu gostava de ouvir aquelas palavras, e quando ele chegava eu aproximava-me dos namorados (muitas vezes enxotavam-me), mas arranjava maneira de ficar por perto, fingindo brincar, só para ouvi-lo falar. Não conhecia ninguém que se expressasse com tamanha elegância de vocabulário. O meu desejo era falar assim, quando crescesse.

Depois o tal rapaz casou com a minha prima, foram viver para outra cidade, eu já vivia com os meus pais e passaram anos sem que os voltasse a ver. Até que um dia o meu pai, anunciou que íamos ter novos vizinhos, que eram, nem mais nem menos, os meus primos.

Eu já com 14 anos adorei a notícia, porque ia novamente conviver com a minha querida prima e com aquele primo que falava tão bem. Ia ser mesmo bom!

Mas foi uma grande desilusão. Não a minha prima, que essa continuava bonita e alegre como dantes, mas ele, já não me entusiasmou. Continuava usando e abusando daquela mesmíssima linguagem dos efectivamente e dos extremamente, mas não passava disso.

Não demorou nada para que eu me apercebesse da pobreza da conversa. Além disso, era uma pessoa muito pouco informada, porque não tinha interesse por quase nada.

Lembro-me quando uma vez os dois filhos deles estavam vendo desenhos animados na TV e ele disse: “Não sei que graça é que vocês acham a isso!” Não era pessoa capaz de ler um livro, de ver um filme, só lia uma página dos jornais: a da Necrologia, que eu achava estranho, pois ele ainda não conhecia ninguém naquela cidade! Era engraçado porque ele começava pela última página, parava na Necrologia e lia tudo. Depois fechava o jornal e pronto, estava concluída a leitura.

Veio tudo isto a propósito de uma discussão amigável que tive ontem sobre o poder das palavras. Falámos sobre o que elas são capazes: de enganar, de magoar, de seduzir, de acariciar, de convencer, de conter vários significados, de estar na moda, de desaparecer durante muito tempo, para renascer já com pequenas modificações, mostrando que ainda estão vivas.

Reflectimos sobre as pessoas que conseguem dominar bem o uso das palavras, e como elas podem ter enorme poder e usá-lo como quiser, para o bem e para o mal. Mas depende da habilidade com que são usadas, porque tanto podem ajudar-nos como atraiçoar-nos.

Quando uma palavra fere sensibilidades, basta substituí-la por outra ou por duas ou três, que já é aceite sem melindre. Certamente se lembram da polémica sobre a legalização do aborto e da mudança para a expressão mais aceitável, interrupção voluntária da gravidez. Outra expressão é o suicídio medicamente assistido ou morte medicamente assistida quando antes só se falava de eutanásia.

Em algumas profissões, como a Publicidade, por exemplo , saber jogar com as palavras é fundamental, eles usam frases curtas que dizem tudo, ao contrário dos políticos em que as frases são grandes e não dizem nada.

Eu acho que as palavras só por si mesmas têm um potencial enorme, mas é muito útil conhecer de onde elas vêm e quem as pronuncia. Só assim é possível descodificá-las e decidir o que elas realmente valem.

Até à próxima.


Créditos da Foto:sergis blog
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03/05/10

Professor: Assim Não!

Todos tivemos um(a) professor(a) que jamais esquecemos porque nos marcou de forma positiva ou negativa, para o resto do curso, ou mesmo da vida. Eu só comecei a gostar de matemática, na Faculdade, e foi necessário rever algumas matérias (por minha iniciativa) nos livros do Liceu (Ginásio como se diz no Brasil), para obter as bases necessárias. Felizmente resultou . É que na Faculdade tive a sorte de ter um professor excepcional e com uma capacidade enorme de motivar os alunos.

Outro exemplo foi a minha paixão pela disciplina de Português, (principalmente Literatura), justamente porque tive um professor, que gostava do que ensinava e nos transmitiu esse gosto. Lembro-me de que ele organizava visitas às casas de escritores (clássicos da nossa literatura), para que pudéssemos sentir o ambiente em que eles viveram.

Embora o ambiente familiar tenha muita influência nas escolhas que um adolescente faz, sem dúvida que os professores podem aumentar ou aniquilar o interesse que o aluno pode ter por uma determinada área.

O meu pai dizia que passou a detestar a disciplina de Mineralogia porque teve um professor que nunca deveria ter seguido a carreira docente. Era um verdadeiro terror e parece que tinha um prazer sádico em manter essa fama. A história desta aversão pela Mineralogia foi ouvida em nossa casa tantas vezes, que ainda hoje sou capaz de a reproduzir.

Segundo nos contava o meu pai, o professor administrava aquela disciplina do seguinte modo: A entrada era às 8 horas da manhã, não havia qualquer tolerância. Quem chegasse depois dessa hora, um minuto que fosse, já não podia entrar na sala.

As aulas eram áridas e ele queria que os alunos decorassem a totalidade da matéria, que ele seguia escrupulosamente pelo livro de que era o autor.

Os testes de fim dos períodos eram conduzidos de forma inacreditável. Distribuía um papel com as perguntas e em seguida citava as regras, num tom monocórdico: Os senhores têm 20 minutos para fazer o teste, e quem concluir em 15 minutos ou menos, tem mais um ponto (valor), qualquer fraude ou tentativa de fraude é punida com a expulsão da sala e o teste do aluno é considerado nulo.

Colocava o relógio sobre a sua mesa e dizia: podem começar! O nervosismo a que a turma estava sujeita, já era muito, mas dizia o meu pai, que a partir do décimo minuto ficava insuportável. O tal professor começava a dizer em voz alta: para os 15 minutos faltam 5 minutos, faltam 4, faltam 3 faltam 2, falta 1,acabou! E os 5 minutos seguintes, eram ainda mais dramáticos, ele anunciava que faltavam 5 minutos para o fim do teste, e ia contando em escala decrescente os minutos que faltavam, até ao terminou! E rapidamente ia recolher os testes.

Não é difícil imaginar o estado de tensão que deve provocar, num teste de tão curta duração, o docente durante metade do tempo e de minuto em minuto, em voz alta, perturbar a turma com aquela lengalenga.
Na correcção dos testes, ele considerava errado tudo o que estivesse diferente do livro, e como a matéria só por si era difícil, ter que decorá-la era quase impossível.

Quando as notas eram afixadas no átrio a curiosidade era geral e não só dos alunos directamente interessados. Dizia o meu pai que os resultados eram sempre do tipo: oito alunos tinham nota zero, sete tinham nota 2, cinco com nota 3, três com nota 4 e um com nota 6. Este professor dava as aulas teóricas e a salvação estava nas aulas práticas cujo professor era a antítese do outro. Dava notas altas, normalmente entre 15 e 18, salvando alguns da reprovação. Convém aqui esclarecer que as notas em Portugal vão de zero a vinte.

Eu achei estranho que os testes só tivessem a duração de 20 minutos, mas o meu pai, na altura esclareceu que, o professor sabia que era o tempo suficiente para que um aluno suficientemente louco, com memória de elefante, e que tivesse decorado a matéria, concluísse o teste.

Todos os alunos que passaram por aquela disciplina sentiram-se revoltados com o sistema , mas nunca ninguém protestou. Até que em 1953, um aluno mais corajoso revoltou-se e em plena aula, defrontou o professor que esteve à beira de “cair redondo” ali mesmo.

Talvez seja oportuno esclarecer que naquela época os professores tinham tal autoridade, que os alunos se punham de pé em atitude de respeito, quando eles entravam. Era impensável confrontar um professor do modo que aquele aluno terá feito.

Contou-nos o meu pai, que o professor, na aula seguinte anunciou à turma que no exame final ele não iria corrigir a prova escrita desse aluno nem o interrogaria na prova oral. Tudo isso foi feito por outro docente. Tomou essa decisão para que ninguém pudesse acusá-lo de ter prejudicado o aluno revoltado.

O aluno passou de ano e nesses exames os examinadores (esse professor incluído) foram bastante benevolentes. Apesar de tudo eles reconheceram que o aluno tinha razão.

Actualmente é fácil protestar junto do professor quando os alunos entendem que estão sendo prejudicados, mas naquele tempo as coisas não eram assim.

Será que com o espírito de liberdade que predomina na época actual alguém suportava este professor?

Até à próxima.

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25/04/10

Quero Ser Preso!

A sala de espera de um Serviço de Urgência é um local onde tudo pode acontecer: Há os que fazem uma gritaria infernal, porque querem ir para junto do familiar doente ( só é permitido uma pessoa de cada vez), outros que numa calma aparente, andam quilómetros dentro da sala, de um lado para o outro e só param para descansar ou resolver alguns problemas básicos. Eu não me situo em nenhum destes grupos, faço pequenas digressões pelo local, para desentorpecer, e vou sentando aqui e acolá.

Mas o empolgante é que há uma grande variedade de comportamentos e alguns bem interessantes como este que presenciei:

Sentado quase ao meu lado estava um homem que me despertou curiosidade pela postura que mantinha como se quisesse ocupar pouco espaço, pernas apertadas uma contra a outra, dos joelhos aos pés, e os braços cruzados sobre o peito. Tudo isto revelava um estado de tensão. Além disso, fixava as pessoas que passavam como se esperasse alguém.

E esperava mesmo, porque quando chegou o Agente da autoridade policial, que trocou algumas palavras com o colega de turno este indicou o homem sentado, que prontamente se levantou e eu ouvi um diálogo invulgar:
- Então é o senhor que quer ser preso?
- Sou sim, senhor.
- Porquê quer ser preso? O senhor matou alguém? Fugiu de algum lado?
-Não, senhor.
-Então não posso prendê-lo!

Nesta altura tive vontade de ajudar o homem, dando-lhe algumas sugestões como, por exemplo, partir o vidro da janela mais próxima, e outras que me ocorreram com tal facilidade que eu próprio fiquei surpreendido com a minha criatividade nessa área. Mas é óbvio que preferi ficar calado.

Entretanto o homem já soltara a língua e justificava que queria ser preso porque “não gosto da comida que eles me dão”. Então eu percebi que ele vinha de um hospital psiquiátrico, e escapulira-se durante o recreio.

O Agente da Polícia sabia desde o princípio pois, provavelmente, tinha sido informado pelo colega. Essa foi a conclusão a que cheguei porque ele acabou a conversa dizendo que ia transportá-lo ao local de onde ele tinha vindo. Gostei da atitude.

E o homem cuja prioridade era uma alimentação de que gostasse, mesmo em troca da privação da sua liberdade, ficou tranquilamente à espera que o viessem buscar.Não conseguiu ser preso, mas encontrou alguém que lhe deu atenção e escutou o que ele tinha para dizer.E isso bastou, porque a sua postura corporal mudou radicalmente.

Até breve.

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20/04/10

Serviço de Urgência: Onze Horas à Espera!

No Domingo, eu tinha planeado ir a Aveiro, passar o dia com os meus familiares que lá vivem e regressar ao fim da tarde, porque precisava descontrair, depois de uma semana de muito trabalho.

Em vez disso passei onze horas e meia no Serviço de Urgência dum Hospital aqui do Porto. Diz o povo que “o Homem põe e Deus dispõe” e foi isso que sucedeu!

Eram cinco horas da manhã, quando uma das minhas filhas nos veio acordar, dizendo que a avó tinha caído pelas escadas a baixo. Convém aqui dizer, que a minha mãe sofre de doença de Alzheimer há vários anos, mas ainda possuí autonomia suficiente para tomar as refeições junto conosco e utilizar os sanitários,sem precisar de ajuda. Durante a noite era habitual, levantar-se e ir à casa de banho, depois voltava para a cama deitava-se e adormecia tranquilamente. Esta era a rotina.

Mas pelas 5 horas da manhã de domingo,tudo mudou. Provavelmente ao pretender utilizar a sanita, deve ter tido um momento de confusão e foi para o lado oposto, onde ficam as escadas( a porta dos sanitários está a 30 cm da porta do seu quarto, as escadas ficam a 3 metros de distância).

Apesar de fazer uso dos sanitários há 5 anos, sem qualquer problema, ontem deve ter feito uma tentativa de descer as escadas no escuro e caiu. Eu e a minha mulher dormíamos tão profundamente que nada ouvimos.

Chamamos o 112 e às 5,50 horas estávamos num Serviço de Urgência, Durante a primeira metade da manhã fez radiografias um TAC e análises de sangue e levou não sei quantos pontos numa ferida, na cabeça. Às dez o médico disse-nos que não havia fracturas de ossos e que agora precisava ser observada pelo neurologista.

Foi nesse preciso momento que entramos no “país do terceiro mundo”. Pacientemente esperámos mais 2 horas e reclamámos a demora. A justificação era que havia um problema com o sistema informático, mas penso que o verdadeira dificuldade era a ausência do neurologista.

Enquanto esse médico não apareceu, a minha mãe, que se queixava de dores intensas, não tomou qualquer analgésico, nem se alimentou porque poderia ter que fazer outros exames, se o neurologista assim entendesse.

No entanto, só cerca das 16,45 a doente foi observada pelo médico que lhe deu alta e só nessa ocasião ela pôde tomar analgésicos e comer algumas bolachas com chá. Saímos do Hospital às 17,30.

No fim do dia estávamos extremamente fatigados e a doente era quem se apresentava com melhor disposição devido ao efeito dos analgésicos.

Não acredito na história da avaria do sistema informático, e tenho dificuldade em perceber o motivo pelo qual a doente só foi observada pelo médico neurologista quase 11 horas depois de ter dado entrada. É assim que está o nosso Serviço Nacional de Saúde.

Há uns meses atrás vi uma notícia que dava conta de que (estou a citar de memória) o Sábado e o Domingo são os dias em que há mais falecimentos nos Serviços de Urgência e tal seria causado pelo facto de haver menos médicos nesses dias. Serão poucos, mas se dos poucos que estiverem escalados, eventualmente, um ou outro possa não estar de “corpo presente”, ainda passam a ser menos.

O caso da minha mãe, felizmente não era de morte, mas estar onze horas e trinta minutos num hospital à espera de um sistema informático que funcione ou de um neurologista que apareça para avaliar se o estado da doente era ou não grave, francamente, é surrealista.

Enquanto esperava, lembrei-me do artigo que o Yúri escreveu no seu Simples Assim,
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Bem, como agora o pior deve ter passado, o melhor será nunca mais precisar dos Serviços de Urgência, e nos fins de semana então nem pensar!

Alguém já precisou dum Serviço de Urgência? Se precisou conte-nos a sua experiência.

Até breve.



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03/04/10

O Chico Esperto

Quem já não tropeçou, ao longo da vida, num Chico Esperto? Essa figura aparece em toda a parte: Na Faculdade, na Fila de espera, na Empresa, em qualquer lugar, lá está o sujeito procurando tirar vantagens das mais diversas situações.

NA FACULDADE

É aquele aluno simpático e bem-humorado,que não tem amizade por ninguém mas que se dá bem com todos. Estudar as matérias não é com ele. Prefere copiar, e o seu objectivo desde os primeiros dias de aulas é descobrir um colega bom aluno, que esteja disposto a deixá-lo copiar nos dias dos testes.

E no dia da prova, ele vai estar no lugar mais próximo da "vítima" para poder copiar.O problema é quando aparece um outro Chico Esperto: Uma vez toda a turma presenciou uma disputa por causa do melhor lugar, com ameaças de "lá fora a gente conversa".

NA FILA DE ESPERA

Ele ultrapassa toda a gente e chega junto ao que está na cabeça da fila e diz que só quer fazer uma perguntinha rápida no balcão. Quando sai, ouve alguns protestos dos que esperam na fila, mas ele é descarado e o que lhe interessa é que já resolveu o seu problema.

NA EMPRESA

Aqui é mais grave e às vezes prejudica os colegas de trabalho. O seu objectivo é atingir na hierarquia, o posto mais elevado que lhe for possível. Quem pretender subir de posto pelo mérito, que se cuide porque os métodos do Chico Esperto são modernos e actualmente, mais apreciados. Ele sabe usar a lisonja como ninguém e é hábil a descobrir com quem funciona.

O Chico Esperto geralmente não é trabalhador nem competente, mas tem outras características que causam muito efeito. Fala bem e esbanja simpatia e está sempre disponível para um coffee break ou almoços onde ele possa saber novidades e, em dia de sorte, "apanhar" qualquer notícia importante.

Depois de descobrir alguma coisa que lhe interessa, é rápido a actuar e usa da maior discrição. Nesta fase é um especialista em não dar nas vistas.

Ele é cativante com as pessoas que lhe possam ser úteis e para o conseguir utiliza qualquer meio. Como "trabalha" bastante nestas campanhas de descobertas e conquistas, acaba por quase nunca estar onde devia estar, ou seja, no seu lugar de trabalho.

Mas isso é um detalhe que ele resolve com facilidade: aquele que eu conheci, trazia de vez em quando,uns croissants e outros produtos de confeitaria, que oferecia às pessoas que trabalhavam com ele. Desse modo, sempre que alguém perguntava por ele, recebia invariavelmente uma boa explicação para a sua ausência.

E assim vai fazendo dos outros, seus cúmplices, sem que estes se apercebam. Esta maneira de ser também lhe traz dissabores que ele ultrapassa, mostrando-se muito ofendido, negando, falando da transparência que usa,e arruma o assunto dizendo que tudo o que faz é no interesse da empresa.

Eu conheci um Chico Esperto (como lhe chamavam), lá na Empresa onde trabalhei em início de carreira. Nunca me prejudicou porque pertencíamos a secções diferentes, e até nos dávamos bem e algumas vezes rimos das maneiras dele.

Pois esse rapaz, três anos mais tarde, já ocupava um importante lugar na hierarquia do grupo a que a empresa pertencia. Dizem que foi uma nomeação por confiança política, mas a curiosidade é que ninguém lhe conhecia qualquer preferência partidária.Nunca vi aquela alma discutir política.

Inclino-me mais para a "teoria" de que o Chico Esperto, não é amigo de ninguém, e só abrirá uma excepção para quem lhe der algo de importante em troca. E parafraseando o poeta:"esse amor será eterno enquanto durar".

Você já conheceu alguém com estas características ?

Até à próxima

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08/03/10

Dia Internacional da Mulher

Mais um Dia Internacional da Mulher. Eu no lugar das senhoras não gostaria que este dia lhes fosse dedicado (nem este nem outro qualquer), porque faz passar a ideia de que os restantes 364 dias são dos homens!

Já sei que esta moda de atribuir dias por tudo e por nada é apenas uma questão de Marketing. É preciso criar eventos que aumentem as vendas. Mas sinceramente não gosto, e até, como neste caso, acho humilhante.

Será que neste dia os homens são mais atenciosos com as suas companheiras e com as mulheres em geral? Talvez, não sei. Quanto a mim, mantenho a mesma postura dos outros dias. Isto é, sou sempre amável com o sexo oposto, e nem outra coisa seria de esperar de uma pessoa civilizada.

Outra coisa é constatar que existem ainda muitos preconceitos que dificultam a vida, ao sexo feminino, principalmente no aspecto profissional. Na faculdade elas são melhores do que nós os homens. Mas quando acabam os estudos existe o tal "tecto de vidro" que não as deixa subir. As que conseguem, ganham menos que os seus colegas masculinos. Mesmo as que não sobem ganham menos.

Mas a culpa será só da sociedade masculinizada? Leiam esta história passada comigo.

Na área da Engenharia Civil, uma das actividades que exerço,é a de avaliação de prédios, o que me leva muitas vezes a deslocar-me a várias cidades e outras pequenas povoações, para ver moradias e apartamentos. Quando não conheço os locais preciso de instruções para conseguir lá chegar.

Daí que seja sempre necessário uma ligação telefónica para marcar o dia, a hora e pedir que nos indiquem algumas referências que facilitem a descoberta do prédio a avaliar.É que chega a ser bastante difícil, quando se trata de casas à beira de estradas, ou em pequenos aglomerados populacionais.

Um dia, telefonei,fui atendido pela proprietária, e depois de marcar o dia e a hora
em que iria, seguiu-se o pedido de umas dicas para lá chegar. A senhora, amavelmente me indicou o caminho enquanto eu tomava notas para não esquecer.

Aconteceu que uma hora depois, eu voltei a telefonar para mudar o horário (tinha havido uma desistência de um outro cliente)e voltei a ser atendido pela proprietária, que me disse isto: Ainda bem que telefona, é que as indicações que lhe dei estão erradas. Desculpe, sabe ... eu sou mulher. Vou passar ao meu marido que ele é que sabe.

Eu bem tentei: disse-lhe que me explicasse melhor o caminho eu iria lá chegar, mas ela achou mais simples chamar o marido que ele explicaria melhor.

Como é possível que em pleno séc. XXI, ainda haja alguém que pense que ser mulher lhe confere uma capacidade menor do que a do companheiro. Talvez tenha sido ele que a convenceu disso. Mas isto é apenas um caso que não permite generalizar.

Nestas minhas andanças, nunca notei qualquer superioridade dos homens. O que aprendi foi que os eles indicam o caminho de uma maneira e as mulheres têm outro estilo, que até me parece mais interessante.

Por exemplo: Um homem dirá,siga pela estrada tal, ande 3 km, vire na primeira à direita, ande cerca de 1 km e é aí.Se tiver dúvidas basta perguntar qual é a casa do José Mateus, que todos me conhecem.

Já uma mulher dirá: Siga pela estrada que tem árvores dos 2 lados, vai encontrar do lado direito uma casa branca que tem um jardim na frente com uma árvore enorme, passando essa casa encontra uma cruz de pedra na beira da estrada, volta à direita e segue em frente. Quando vir uma casa branca com um grande portão verde, a nossa casa é logo a seguir.

É evidente que não há inferioridade intelectual com base no sexo. Há sim é muito preconceito que precisa de ser banido quanto antes.

Além disso já não estamos no séc. XVII, em que a sociedade (dominada pelos homens e aceite pela maioria das mulheres)dizia que "a mulher só precisava saber ler para compreender o marido". Muito caminho já se percorreu mas ainda falta bastante, que deve ser ultrapassado a correr.

Não acham?

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20/01/10

Criatividade Sim Mas Com Limites!

Neste tempo em que as pessoas se esforçam por retomar hábitos de poupança, procurando gastar o menos possível, eu lembrei-me do Mário Jorge, que já não vejo há uns quinze anos.

Nessa altura ele ja teria 40 anos e era conhecido entre os amigos por ser um especialista na arte de poupar. Mas o que o fez ganhar essa fama não foi propriamente ele gostar de fazer economias, mas sim os métodos que utilizava.

Ficaram célebres algumas atitudes que ele tomava, porque tinham sempre a mesma característica: Tirar o melhor proveito possível da situação.

Ficaram registadas na memória de quantos conviveram com ele, algumas anedotas a propósito da sua maneira de se aproveitar das situações.

Lembro-me (porque isto virou anedota), de quando ele quis ajudar o Germano que andava muito deprimido. Comprou um livro de Auto-Ajuda para supostamente oferecer ao rapaz em crise. Escreveu no livro uma simpática dedicatória, onde exortava o doente a conviver com os amigos e garantia que aquele livro iria ajudá-lo.Terminava a dedicatória com uma frase do tipo:Deseja-te rápidas melhoras, o amigo atento, Mário Jorge.

De posse do livro,telefonou ao "felizardo" e convenceu-o (com dificuldade)a sair de casa e ir tomar um copo com ele, que só lhe faria bem espairecer.

No Café onde se encontraram, mandou servir um lanche para cada um, e conversaram sobre os males que andavam a afligir o amigo.

Dias depois, o Germano contava-me que o Mário lhe entregou o livro, ele leu a dedicatória, e quando ia agradecer, o Mário Jorge disse-lhe: Não me agradeças, porque quem vai pagar o livro és tu,é que eu não estou nadando em dinheiro. E se quiseres ser simpático com quem te quer ajudar, paga também os lanches. Depois conta-me se gostaste do livro.

O Germano ficou tão indignado com esta cena, que nunca chegou a ler o livro.

Conta-se também que quando ele mudou de casa, convidou alguns casais amigos para a inauguração da sua nova morada. Pediu-lhes que fossem ter ao antigo apartamento dele e depois seguiriam todos juntos para a casa a inaugurar.

Estaria tudo bem se ele, sem qualquer aviso prévio, não tivesse enchido os automóveis dos convidados com o que faltava transportar para concluir a mudança.

Mas até seria tolerável se ele e a sua mulher não tivessem posto os amigos, a arrumar nos lugares definitivos tudo (ou quase tudo) o que já havia sido transportado.

Só depois teve lugar a inauguração. Uns artigos de confeitaria servidos em pratos de papel e as bebidas em copos de plástico. A inauguração acabou de madrugada, e os convidados deixaram a casa impecavelmente arrumada.

Parece que era um hábito dele quando dava uma festa,os convidados eram “estimulados” a deixar a casa toda arrumadinha.Portanto a maioria já habituada.

Eu nunca fiz parte do círculo de amigos do Mário Jorge, daí que nunca tenha participado nessas iniciativas. Mas conheci alguns dos que participaram naquela “criativa” inauguração.

Ele não era elogiado pelo modo muito próprio de utilizar a seu favor o “voluntariado” de quem apanhava a jeito. Mas havia unanimidade quando se falava da enorme imaginação do Mário Jorge.

Eu não simpatizava com aquela maneira de “ajudar” os outros, ou de “obrigar” os amigos a ajudá-lo. Mas se calhar ele é que tinha razão: os amigos são para as ocasiões.Não é assim?

Até à próxima

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