20/04/10

Serviço de Urgência: Onze Horas à Espera!

No Domingo, eu tinha planeado ir a Aveiro, passar o dia com os meus familiares que lá vivem e regressar ao fim da tarde, porque precisava descontrair, depois de uma semana de muito trabalho.

Em vez disso passei onze horas e meia no Serviço de Urgência dum Hospital aqui do Porto. Diz o povo que “o Homem põe e Deus dispõe” e foi isso que sucedeu!

Eram cinco horas da manhã, quando uma das minhas filhas nos veio acordar, dizendo que a avó tinha caído pelas escadas a baixo. Convém aqui dizer, que a minha mãe sofre de doença de Alzheimer há vários anos, mas ainda possuí autonomia suficiente para tomar as refeições junto conosco e utilizar os sanitários,sem precisar de ajuda. Durante a noite era habitual, levantar-se e ir à casa de banho, depois voltava para a cama deitava-se e adormecia tranquilamente. Esta era a rotina.

Mas pelas 5 horas da manhã de domingo,tudo mudou. Provavelmente ao pretender utilizar a sanita, deve ter tido um momento de confusão e foi para o lado oposto, onde ficam as escadas( a porta dos sanitários está a 30 cm da porta do seu quarto, as escadas ficam a 3 metros de distância).

Apesar de fazer uso dos sanitários há 5 anos, sem qualquer problema, ontem deve ter feito uma tentativa de descer as escadas no escuro e caiu. Eu e a minha mulher dormíamos tão profundamente que nada ouvimos.

Chamamos o 112 e às 5,50 horas estávamos num Serviço de Urgência, Durante a primeira metade da manhã fez radiografias um TAC e análises de sangue e levou não sei quantos pontos numa ferida, na cabeça. Às dez o médico disse-nos que não havia fracturas de ossos e que agora precisava ser observada pelo neurologista.

Foi nesse preciso momento que entramos no “país do terceiro mundo”. Pacientemente esperámos mais 2 horas e reclamámos a demora. A justificação era que havia um problema com o sistema informático, mas penso que o verdadeira dificuldade era a ausência do neurologista.

Enquanto esse médico não apareceu, a minha mãe, que se queixava de dores intensas, não tomou qualquer analgésico, nem se alimentou porque poderia ter que fazer outros exames, se o neurologista assim entendesse.

No entanto, só cerca das 16,45 a doente foi observada pelo médico que lhe deu alta e só nessa ocasião ela pôde tomar analgésicos e comer algumas bolachas com chá. Saímos do Hospital às 17,30.

No fim do dia estávamos extremamente fatigados e a doente era quem se apresentava com melhor disposição devido ao efeito dos analgésicos.

Não acredito na história da avaria do sistema informático, e tenho dificuldade em perceber o motivo pelo qual a doente só foi observada pelo médico neurologista quase 11 horas depois de ter dado entrada. É assim que está o nosso Serviço Nacional de Saúde.

Há uns meses atrás vi uma notícia que dava conta de que (estou a citar de memória) o Sábado e o Domingo são os dias em que há mais falecimentos nos Serviços de Urgência e tal seria causado pelo facto de haver menos médicos nesses dias. Serão poucos, mas se dos poucos que estiverem escalados, eventualmente, um ou outro possa não estar de “corpo presente”, ainda passam a ser menos.

O caso da minha mãe, felizmente não era de morte, mas estar onze horas e trinta minutos num hospital à espera de um sistema informático que funcione ou de um neurologista que apareça para avaliar se o estado da doente era ou não grave, francamente, é surrealista.

Enquanto esperava, lembrei-me do artigo que o Yúri escreveu no seu Simples Assim,
novo-codigo-de-etica-medico-sera-que

Bem, como agora o pior deve ter passado, o melhor será nunca mais precisar dos Serviços de Urgência, e nos fins de semana então nem pensar!

Alguém já precisou dum Serviço de Urgência? Se precisou conte-nos a sua experiência.

Até breve.


4 comentários:

  1. Olá José,

    Quando vi no RSS que recebi por e-mail o título do artigo, fiquei realmente assustado! E em seu relato percebe-se que a saúde do outro lado do Atlântico também precisa de mais cuidados.

    Aqui no Brasil a situação é bem pior, pelo menos sua mãe foi atendida rápido, a não ser pela parte do neurologista. Aqui, até o serviço médico particular às vezes é ruim - por isso minha indignação com relação ao novo código de ética médica, conforme você citou meu artigo.

    Espero que a saúde do lado de cá melhore muito, e do lado de lá não venha a piorar como aqui.

    Grande abraço, e melhoras para sua mãe.

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  2. Olá Iúri,

    Muito obrigado pela sua visita e pelos desejos de melhoras da minha mãe.
    Foi um susto enorme!

    Agora aqui em casa temos estado de plantão para ajudá-la a alimentar-se, mover-se, ir ao sanitário,e está dormindo acompanhada. Mesmo estando a tomar analgésicos tem muitas dores. Nem outra coisa seria de esperar, não é?

    Um grande abraço.

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  3. Meu deus do céu! Que absurdo, a vida de uma pessoa na mão de um sistema de informática!

    Realmente é, alem de inaceitável, desumano.

    Abraços!

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  4. Olá O Ruminante,

    É verdade, cada vez mais a informática vai tomando conta das nossas vidas, para o bem e para o mal.

    Mas também acontece algumas vezes responsabilizarem o sistema informático quando ele está inocente que nem um bebé!

    Obrigado pela sua visita e comentário.E aí por Belém, tudo bem? Nasci nessa Cidade, sabia?

    Apareça sempre!

    Um abraço!

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