15/03/08

Histórias infantis metem medo.

Parece ironia dizer que estas histórias metem medo? Preste atenção e depois diga qualquer coisa.
Nos seus tempos de infância com certeza lhe contaram aqueles belos contos que deixavam a criança que você era, com um aperto no estômago e o coração batendo mais acelerado. Depois foi aparecendo o medo do escuro, o medo dos ruídos, do trovão, e o levantar para se meter na cama dos pais. Lembra-se disso, não se lembra? Agora recorde as histórias que nos contavam.
A do Chapeuzinho Vermelho, o lobo come a avozinha e depois quer comer a menina, que é salva por uns caçadores que passavam ali perto.
A Branca de Neve, passa um mau bocado com a bruxa. A Gata Borralheira, bonita, mas pobre vive angustiada e triste, descriminada pela madrasta e respectivas filhas que são feias.
E o problema do Pinóquio, que não pode dizer uma pequena mentira que o nariz logo cresce.
Em tudo quanto é história, aparece sempre uma bruxa feia e má que complica a vida da menina bonita e boazinha. Lembra-se do que a bruxa fez no conto da Bela Adormecida?
Já sei que me vão dizer que estes contos têm sempre um final feliz, e que há sempre uma, ou mais fadas, belas e sempre disponíveis, que dão a volta à situação. Ou um príncipe, que com um beijo resolve o problema.
Mas a verdade é que naquela idade, o que fica, é o que se refere à bruxa feia e ao lobo mau, ou seja, o que mais assusta. Talvez porque, quando a mamã está a contar a segunda metade dessas histórias ( a parte em que entram as fadas e os príncipes), a criancinha já adormeceu.
E durante alguns anos, a criança vai ter uma "teoria", que o que é bonito é bom e o que é feio é mau. Mais o que ela ouvirá, da empregada doméstica, e não só, do tipo: "se não te portas bem eu chamo o lobo mau", etc..
Mas actualmente a coisa piorou. São lutas e mais lutas, entre criaturas incríveis. E embora haja alguns canais de TV que alinham menos nestes horrores, as crianças parecem gostar dos que têm lutas e muito ruído.
E há as bandas desenhadas e os livros de histórias que desmistificam com mais ou menos humor, os antigos contos. Vi em data recente, uma de Quino, em que Capucita Roja (é espanhol), quando chega a casa e o lobo já comeu a avó, ela procura e encontra uma apólice do seguro de vida da avozinha, e a história termina com a mãe da Capuchinho Vermelho e ela própria, as duas deitadas à sombra, tomando sumos e capuchinho acariciando o lobo.Gostei de um livrinho que vi.
E um livro infantil, com texto de Chico Buarque e ilustrações de André Letria, o "Chapeuzinho Amarelo". Achei interessante, porque aí sim. Ela tinha medo de tudo: "tinha medo de trovão". /Minhoca pra ela era cobra./E nunca apanhava sol/porque tinha medo da sombra/..."
Ela perde o medo do lobo , e em relação a todos os seus antigos medos ela inventa uma brincadeira: "o lobo já não é lobo, é bolo" ,"barata é tabará". E por aí adiante.
É um curto livro, que é um exemplo, do que na minha opinião, deveriam ser as histórias infantis. Não mete medo, e pelo contrário, ensina um truque para perdê-lo, naquele jeito especial de letra de música.
José

3 comentários:

  1. Interessante "Chapeuzinho Amarelo", histórias infantis deviam ser assim sempre.
    Hoje em dia os contos infantis não causam mais medo, ainda bem!
    Existe até a Psicanálise dos contos de fada, é um livro.

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  2. Os contos parecem agora ser mais bem elaborados, e ainda bem; É que este nosso mundo está tão assustador!

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